terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O que você faria para realizar um sonho? - Fã - Brasil Open 2013

Anos a fio, tenho visto minha irmã acompanhar todos os passos do maior ídolo da vida dela. Afinal, quem nunca? Passei a gostar dele por osmose: fui absolutamente contaminada pela admiração que ela tem por ele e pelo tênis, o esporte. E como ter um ídolo sem pensar, uma única vez que seja, em encontrá-lo? Sonhar em juntar uma grana polpuda e vazar para Roland Garros, por exemplo? Às vezes, tudo parece tão distante... Mas sonho é sonho e, para se tornar realidade é preciso lutar, lutar muito! Não é isso que as histórias dos nossos próprios ídolos nos ensinam?
E o tempo foi passando. Chegou janeiro de 2013. Surpreendentemente, um unúncio: o ídolo dela viria à terrinha verde-e-amarela para disputar o Brasil Open. Ok. Em São Paulo – e muita gente sabe que, quando a grana é curta, ir de BH a Sampa é como ir a Madri.
O tempo, porém, não espera. Ingressos à venda. Dinheiro, onde está você? Ficar onde? Ônibus? Avião? Anel superior? Inferior? Sozinha. Fã de verdade não se importa com isso, dá um jeito.
No mesmo dia, quando cheguei em casa à noite, ela me recebeu com o sorriso das crianças: puro, limpo, verdadeiro. Estava tudo ali: passagem comprada, hospedagem reservada, ingressos pagos e uma rede de amigos formada a partir de um grupo do facebook – que, a propósito, ela coordena - que reúne amantes do mesmo esporte, do mesmo ídolo. Uau!!!!
Fiquei muito feliz. Era o sonho de uma vida: isso não se mensura e nem se julga, porque a vida de cada um é a vida de cada um, e eu admiro quem luta por seus sonhos e não fica apenas descansando a cabeça no travesseiro.
Acordei numa segunda-feira de Carnaval às 6h da manhã (arghhh!) e a levei ao aeroporto. Afinal, ela merecia todo o meu esforço. Detalhe: ela já tinha reclamado de algumas dorzinhas no corpo, mas nada demais.
E, rasgando os céus de BH, lá se foi minha irmãzinha atrás do “Rei do Saibro”, Rafael Nadal. Mas diferente do que esperávamos, as coisas começaram a dar errado logo que ela chegou em São Paulo. As dores aumentaram consideravelmente e, mesmo assim, lá estava ela, guerreira, assistindo os treinos e farejando cada local onde o ídolo ia passar.
Enfim, Nadal estreou no torneio e, no anel superior, com o coração disparado, ela acompanhava tudo. O corpo, porém, reclamava. Os amigos corriam de um lado para o outro para tentar um autógrafo, uma foto. Ela também. Alguns conseguiram rapidamente, outros um dia depois, mas, para ela, o sonho parecia estar anuviado. Hotel, restaurante, treino, jogo, nada.
Nada de Nadal.
E as dores ficaram insuportáveis. Triste, se conformou de uma forma que não combina com ela, sinônimo da alegria. Havia se convencido de que era azarada e que nada daria certo para ela. Abatida, desistiu de correr atrás do ídolo. Não tinha mais forças – física e mental – para dar continuidade àquela maratona.
As dores a fizeram procurar um hospital em São Paulo. Diagnóstico: dengue, pela segunda vez. Inconformada com a tristeza que ela sentia, rezei. Não pedi para que ela encontrasse o ídolo, juro, mas que ela tivesse a certeza total e absoluta de que não era azarada, que era uma mulher de sorte, alguém de quem me orgulho de ter por irmã.
E uma corrente positiva se formou. Todos torciam pela recuperação dela: a saúde, sempre, em primeiro lugar. Insistente, ela continuou indo aos jogos, mas sem esforços extenuantes. E no grupo de amigos construído ao longo dos anos em torno de um mesmo ídolo, minha irmã encontrou pessoas notáveis, inesquecíveis, que juntaram forças em torno da realização do sonho dela.
E nada há que derrube um lutador de verdade. Com o apoio da mão de um, o braço de outro e uma forcinha mais que divina, ele, o Rei do Saibro, o ídolo da vida dela, soube da existência da fã que se debruçava nos cantos do Ibirapuera e lutava contra seu próprio corpo simplesmente para vê-lo jogar.
Após vencer o torneio e conceder entrevista, foi até ela, que, naquele momento, estava suada, abatida e sentada em uma escada próxima da sala de imprensa. Sem acreditar no que via, ela o viu estender as mãos para ajudá-la a se levantar. Perguntou se ela estava bem, conversaram, a abraçou, deu um beijo no rosto dela, que retribuiu, ainda sem palavras.
Minutos que valeram por uma vida inteira. Sentou novamente e, assim que ele se foi, desabou em lágrimas. Não era azarada – apenas não havia entendido que sorte maior estava reservada para quem faz do sonho uma meta e persevera até o final. O sonho acabou. Restou a realidade. 

Por: Elisângela Orlando

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