Anos a fio, tenho
visto minha irmã acompanhar todos os passos do maior ídolo da vida dela.
Afinal, quem nunca? Passei a gostar dele por osmose: fui absolutamente
contaminada pela admiração que ela tem por ele e pelo tênis, o esporte.
E como ter um ídolo
sem pensar, uma única vez que seja, em encontrá-lo? Sonhar em juntar uma grana
polpuda e vazar para Roland Garros, por exemplo? Às vezes, tudo parece tão
distante... Mas sonho é sonho e, para se tornar realidade é preciso lutar,
lutar muito! Não é isso que as histórias dos nossos próprios ídolos nos
ensinam?
E o tempo foi
passando. Chegou janeiro de 2013. Surpreendentemente, um unúncio: o ídolo dela
viria à terrinha verde-e-amarela para disputar o Brasil Open. Ok. Em São Paulo
– e muita gente sabe que, quando a grana é curta, ir de BH a Sampa é como ir a
Madri.
O tempo, porém, não
espera. Ingressos à venda. Dinheiro, onde está você? Ficar onde? Ônibus? Avião?
Anel superior? Inferior? Sozinha. Fã de verdade não se importa com isso, dá um
jeito.
No mesmo dia,
quando cheguei em casa à noite, ela me recebeu com o sorriso das crianças:
puro, limpo, verdadeiro. Estava tudo ali: passagem comprada, hospedagem
reservada, ingressos pagos e uma rede de amigos formada a partir de um grupo do
facebook – que, a propósito, ela coordena - que reúne amantes do mesmo esporte,
do mesmo ídolo. Uau!!!!
Fiquei muito feliz.
Era o sonho de uma vida: isso não se mensura e nem se julga, porque a vida de
cada um é a vida de cada um, e eu admiro quem luta por seus sonhos e não fica
apenas descansando a cabeça no travesseiro.
Acordei numa
segunda-feira de Carnaval às 6h da manhã (arghhh!) e a levei ao aeroporto.
Afinal, ela merecia todo o meu esforço. Detalhe: ela já tinha reclamado de
algumas dorzinhas no corpo, mas nada demais.
E, rasgando os céus
de BH, lá se foi minha irmãzinha atrás do “Rei do Saibro”, Rafael Nadal. Mas
diferente do que esperávamos, as coisas começaram a dar errado logo que ela
chegou em São Paulo. As dores aumentaram consideravelmente e, mesmo assim, lá
estava ela, guerreira, assistindo os treinos e farejando cada local onde o
ídolo ia passar.
Enfim, Nadal
estreou no torneio e, no anel superior, com o coração disparado, ela
acompanhava tudo. O corpo, porém, reclamava. Os amigos corriam de um lado para
o outro para tentar um autógrafo, uma foto. Ela também. Alguns conseguiram
rapidamente, outros um dia depois, mas, para ela, o sonho parecia estar
anuviado. Hotel, restaurante, treino, jogo, nada.
Nada de Nadal.
E as dores ficaram
insuportáveis. Triste, se conformou de uma forma que não combina com ela,
sinônimo da alegria. Havia se convencido de que era azarada e que nada daria
certo para ela. Abatida, desistiu de correr atrás do ídolo. Não tinha mais
forças – física e mental – para dar continuidade àquela maratona.
As dores a fizeram
procurar um hospital em São Paulo. Diagnóstico: dengue, pela segunda vez.
Inconformada com a tristeza que ela sentia, rezei. Não pedi para que ela
encontrasse o ídolo, juro, mas que ela tivesse a certeza total e absoluta de
que não era azarada, que era uma mulher de sorte, alguém de quem me orgulho de
ter por irmã.
E uma corrente
positiva se formou. Todos torciam pela recuperação dela: a saúde, sempre, em
primeiro lugar. Insistente, ela continuou indo aos jogos, mas sem esforços
extenuantes. E no grupo de amigos construído ao longo dos anos em torno de um
mesmo ídolo, minha irmã encontrou pessoas notáveis, inesquecíveis, que juntaram
forças em torno da realização do sonho dela.
E nada há que
derrube um lutador de verdade. Com o apoio da mão de um, o braço de outro e uma
forcinha mais que divina, ele, o Rei do Saibro, o ídolo da vida dela, soube da
existência da fã que se debruçava nos cantos do Ibirapuera e lutava contra seu
próprio corpo simplesmente para vê-lo jogar.
Após vencer o
torneio e conceder entrevista, foi até ela, que, naquele momento, estava suada,
abatida e sentada em uma escada próxima da sala de imprensa. Sem acreditar no
que via, ela o viu estender as mãos para ajudá-la a se levantar. Perguntou se ela
estava bem, conversaram, a abraçou, deu um beijo no rosto dela, que retribuiu,
ainda sem palavras.
Minutos que valeram
por uma vida inteira. Sentou novamente e, assim que ele se foi, desabou em
lágrimas. Não era azarada – apenas não havia entendido que sorte maior estava
reservada para quem faz do sonho uma meta e persevera até o final. O sonho
acabou. Restou a realidade.
Por: Elisângela Orlando
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